quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ENTREVISTA COM ALUNOS DO CANTO NA ESCOLA EMEF Gov. Carlos Lindenberg, Barro Branco na Serra.


O SONHO
  
Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Clarice Lispector

Uma da tarde, no chamado “contra-turno” dos alunos que participam da aula de coral com o professor Elias Salvador, o blog do Instituto Todos os Cantos foi até a sala de aula para verificar o que estão pensando os jovens matriculados no curso de música do projeto Canto na Escola. Na turma escolhida, são aproximadamente trinta meninos e meninas com idades variando desde sete anos até treze, a maioria numa média desses limites, todos moradores de Barro Branco, um bairro de aspectos rurais, próximo à sede do município da Serra-ES.


Começamos o bate-papo com uma pergunta básica sobre religião e descobrimos que mais da metade dos alunos eram evangélicos, poucos se declararam católicos e alguns até afirmaram não ter religião fazendo expressões desconfiadas, era como se pensassem: vai ter alguma pegadinha nisso aí... Gravando a entrevista e sabendo que as igrejas dão muita importância ao trabalho musical em suas celebrações perguntamos: “Por que vocês resolveram estudar música? Foi por causa da igreja?”

- Eu resolvi estudar música porque eu gosto muito de cantar...

- Como é seu nome?

- Maria Eduarda.

- Tem alguém na sua família que toca algum instrumento, ou que canta?

- O meu primo, ele toca violão e teclado, meus dois primos.

- E vocês têm vontade de tocar algum instrumento também?

- Sim!

- Quem quer aprender a tocar algum instrumento levanta a mão... – Todos levantaram.

- Qual o instrumento que vocês acham mais legal para aprender a tocar? Eu vou dar três opções aí vocês falam: violão (ou guitarra), piano (ou teclado) e violino. – A maioria escolheu o último... (diferente das duas outras escolas atendidas pelo Canto na Escola nos bairros de Feu Rosa e Novo Horizonte, Barro Branco tem aulas de balé, mas violino não).


- Vem cá você, como é seu nome?

- Vitória...

- E por que você quer estudar violino?

- Por que eu acho legal... Da última vez que o pessoal veio aqui tocar eu achei muito lindo, eu gostei.

- O que seus pais fazem? Qual o trabalho deles?

- Meu pai está sem trabalhar e minha mãe é a cozinheira aqui da escola.

- Vem mais um. Qual é o seu nome e por que você quer aprender a tocar violino?

- Meu nome é Vândila e eu acho muito bonito as pessoas tocando violino. Eu amo violino, eu quero aprender a tocar...

- Mas você sabe que o violino é um instrumento de orquestra e você não vai ficar tocando sozinha...

- Seria legal fazer aqui na escola porque não seria só eu, teria várias pessoas...

- Fazer uma orquestra na escola?

- É, seria muito legal.


Perguntado sobre a diferença que sentiam depois de ter começado a participar do coral, alguns disseram ter perdido a timidez e se tornaram mais sociáveis. A aluna Laís disse que “sua voz ficou melhor, mais firme e mais elástica para os graves e agudos.” Perguntamos então qual a parte mais difícil na aula de canto coral e vieram entre risos com uma resposta bastante comportada: “fazer silêncio”.

Desde o início alguns assuntos foram recebidos com certa desconfiança, algumas vezes dava a impressão de que as respostas não eram tão espontâneas ou sinceras e sim pensadas para “acertar”. Como qualquer um, aqueles jovens querem ser valorizados e caíram na tentação de transformar nosso bate-papo num teste para o papel que imaginavam que ia mais agradar. Isso foi bom, porque mostrou que nossa presença é importante e que a oportunidade de serem ouvidos mexe com a autoestima, com os sonhos, os desejos de sucesso e realização.


Perguntado sobre o que achavam mais legal no coral todos responderam “as apresentações”. Explicaram que nestas surge a oportunidade quase única de passear, conhecer pessoas e lugares novos e, principalmente, demonstrarem o que aprenderam em cima de um grande palco, de frente para um grande público. É onde a elevação da autoestima alcança o pico e também o estresse: durante apresentações é comum uma ou outra criança passar mal com a expectativa e o nervosismo.

Antes de começar o ensaio com o professor Elias, preparação para um concerto com a Orquestra Camerata do SESI que tem no repertório canções em hebraico, espanhol, inglês, finlandês, dialeto zulu e outros bichos, perguntamos ao grupo qual tipo de música gostariam ainda de cantar. “Ópera”, disse uma menina, dois ou três não resistiram e corajosamente pediram “funk” e ainda “Titanic”, “Adele”, até “Heavy Metal”.




Por fim perguntamos quem se imaginava seguindo a carreira de músico profissional quando chegasse à idade adulta: todos levantaram a mão. Foi preciso lembrar que, diferente dos “ídolos e dos famosos”, a maioria dos músicos é de gente comum que ensina, toca em bares ou casamentos, vive a vida de maneira simples. Mas é como dizia Jung “Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”. Um dia essas crianças vão fazer suas escolhas, enveredar seus caminhos. O importante foi constatar que, com o Canto na Escola, a vida delas ganhou novo sentido.


No futuro, aqueles jovens da pequena comunidade de Barro Branco na Serra podem até não se tornarem mesmo músicos profissionais como hoje sonham, mas terão uma coisa que antes não tinham e que praticamente todos os que os conhecem não tiveram: a oportunidade e o direito de escolher...
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