O projeto Canto em Todos os Cantos, como o nome já diz, nasceu da vontade de divulgar o canto coral no maior número de lugares e, aprovado pela Lei Chico Prego, segue sua temporada 2012 de apresentações, como a do coral formado por alunos do projeto Canto na Escola que ocorreu domingo passado – 05 de agosto – na Igreja Católica do bairro Feu Rosa, na Serra.
É geral a reclamação de artistas locais já consagrados com relação à falta de espaços para apresentações na Grande Vitória, imagine então a dificuldade para os que estão dando os primeiros passos na música. É preciso provocar e “causar”, abrir o caminho para mostrar a voz e dar a vez para aqueles que estão chegando. Essa troca com o público é simbiótica, faz parte do amadurecimento de todo artista: é fundamental.
O termo “simbiose” é perfeitamente aplicável à situação. No dicionário Aurélio está assim: “1. Biol. Associação de duas plantas ou de uma planta e um animal, na qual ambos os organismos recebem benefícios, ainda que em proporções diversas.”
O impacto de uma demonstração musical “ao vivo”, olho do artista no olho da platéia e vice-versa, é infinitamente mais revelador e contundente do que a audição de um disco ou assistir a um show em DVD. A troca de informação extrapola o compreensível, porque na música, intencionalmente ou não, muita coisa não se traduz com palavras, não se racionaliza; são informações para o coração e suas íntimas e ínfimas ligações com coisas que sentimos e percebemos como verdadeiras, mas nem sempre conseguimos explicar. É aquele arrepio, é um calafrio, uma sutil – ou às vezes veemente - pancada no plexo solar.
A oportunidade de uma apresentação cria essa associação entre organismos diferentes: artista e platéia. Mudanças ocorrem depois que esta exposição mútua acontece: reafirma convicções, descortina possibilidades não vislumbradas, influencia pessoas, revela necessidade de aprimoramentos etc. A reação do público pode ser diversa de positiva? Claro que pode. Embora nem sempre – hoje em dia quase nunca – a arte mais elaborada e especial seja a mais valorizada pelo cidadão comum. Muitos cantores podem também não se sentir confortáveis com a exposição, mas o amadurecimento que dela decorre é um bem necessário.
O projeto Canto na Escola existe desde 2011 e atua em três escolas municipais da Serra-ES. Um de seus produtos é o grupo coral formado por jovens dos bairros Novo Horizonte, Barro Branco e Feu Rosa. Regiões que, infelizmente, com frequência são vistas nas páginas policiais. Um líder comunitário de Feu Rosa se queixava da “mídia” dizendo que toda a comunidade acaba carregando o peso dessa “violência” e que as coisas boas que lá acontecem nunca são divulgadas. Falava, inclusive, da apresentação do Canto na Escola formado por um pequeno grupo de jovens do bairro.
| Professor Elias Nascimento regendo do Coral Canto na Escola para uma Igreja Lotada em Feu Rosa, Serra-ES. |
Então houve essa troca, os meninos e meninas cantaram para uma igreja lotada, mostraram força, coragem e determinação. Sem dúvida se descobriram com a experiência dessa exposição pública, é uma marca que poucos esquecem. O público presente, mais do que a música em si, há que ter percebido naquela singela demonstração uma reafirmação de identidade e de pertencimento. São os jovens de seu próprio meio fazendo música e que, amanhã ou depois, estarão ensinando os que ainda vão chegar. É o resultado de um trabalho que acena com a possibilidade tão desejada de mudança para um conceito social positivo. Uma afirmação de esperança e de fé.
Gostei muito quando passaram aqui na minha paróquia (São Pedro - Jacaraípe) assisti do começo ao fim e fiquei empolgado em todas as canções.... Idealizadores e Músicos, vocês estão de parabéns!
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