sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DOBRADINHA MUSICAL NO PROJETO CONCERTOS NA VILA



Esta foi uma semana de grandes apresentações nas quais tomaram parte três grupos dos principais projetos do Instituto Todos os Cantos. Na terça-feira passada (dia 28 de agosto) o coral formado por mais de quarenta meninos e meninas de Novo Horizonte, todos estudantes do projeto Canto na Escola, participaram de uma linda festa na Casa de Congo Mestre Antônio Rosa, Serra-ES. Oportunidade ideal para promover a interação dos jovens com as manifestações mais tradicionais de nossa cultura.

Vários grupos folclóricos marcaram presença nesta que foi a abertura oficial do calendário de eventos da Casa de Congo. O espaço proporciona uma mostra de artefatos de várias expressões artístico/folclóricas de nossa cultura: casacas, tambores, trajes típicos, antiguidades, exibição de videos e muito mais. A festa foi animada por bandas de congo, concertinas e a apresentação do coral Canto na escola que desta vez contou com a regência da professora Monalisa Toledo.



O Coral ArcelorMittal Tubarão e o grupo Algazarra Arte&Coral também se apresentaram nesta quinta feira (30 de agosto), dentro do encontro de corais promovido pelo projeto Concertos na Vila. Uma iniciativa que já emplaca mais de dez anos e uma das poucas do gênero na Grande Vitória, o projeto é uma iniciativa da Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Vila Velha.


A turminha do Algazarra esperando a hora de entrar em ação
 
Os dois grupos foram escolhidos para abrir o encontro, dentro deste projeto que desde o seu início acontece na Igreja do Rosário, tida como a mais antiga do país e que possuiu uma acústica bastante elogiada por maestros. Desta vez a regência dos coros Arcelor e Algazarra ficou a cargo da maestrina Alice Nascimento e ambos realizaram apresentações muito elogiadas que emocionaram aos presentes, sobretudo os jovens do grupo Algazarra que estão dando os primeiros passos neste tipo de evento.
Participaram desta edição do Concertos na Vila, além dos grupos já mencionados, o Coral da Ufes, Coral de Contas e Os Santos Cantores da Casa. Também houveram participações especiais como a da poetisa e atriz Jandyra Abranches que recitou poemas de sua autoria e o artista plástico Guilherme Merçon que contemplou o público com telas que versam sobre temáticas diversas. A direção geral e a produção artística do Concertos na Vila é da Cia Capixaba de Ópera e Musicais, Elaine Rowena, a direção musical do maestro Cláudio Modesto.
 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PROJETO CANTO EM TODOS OS CANTOS ENCERRA TEMPORADA


 
O próximo dia 28 de agosto (terça-feira) marca o encerramento do Projeto Canto em Todos os Cantos. Aprovado pela Lei Chico Prego e com apoio cultural das empresas ArcelorMittal Tubarão e Mangesita, o projeto é uma iniciativa do Instituto Todos os Cantos com o objetivo de difundir a prática de canto coral nas comunidades. Foram contempladas com apresentações gratuitas as comunidades de Boa Vista, Eldorado, Serra Sede, Castelândia, Jacaraípe, Novo Porto Canoa, Novo Horizonte, Feu Rosa e a última será na Casa do Congo, Serra-ES.  

Coral ArcelorMittal Tubarão na Igreja Matriz, Serra Sede.

O resultado deste projeto pode ser sentido com o despertar do interesse nas comunidades pelo ensino de música e com novos convites para apresentações. O antigo vínculo que alia o canto coral e a religiosidade proporcionou uma integração perfeita entre os corais e a platéia. Muitos não se atentam para certos detalhes, mas a acústica dos templos religiosos é milenarmente preparada para essa forma musical e fazem suavemente ecoar as doces vozes pela nave da igreja até suas abóbadas elevando o espírito e alegrando o coração.

Elias Salvador regendo o Coral Canto na Escola na igreja do bairro Eldorado

Outra importante conquista do projeto foi o de abrir espaço para os jovens cantores em sua própria cidade. É o caso desta última apresentação do projeto Canto em Todos os Cantos que traz o coral formado pelos alunos do projeto Canto na Escola, Novo Horizonte, com regência da professora Monalisa Toledo. O grupo vai se apresentar durante a 12ª Exposição Tradição e Folclore que marca a abertura oficial do calendário da Casa do Congo Mestre Antônio Rosa em comemoração ao mês do Folclore e aos 12 anos deste importante espaço cultural na Serra-ES.

Adolfo Alves regendo o Coral ArcelorMittal Tubarão na Igreja São Pedro em Jacarípe.

Concerto de Encerramento do projeto Canto em Todos os Cantos
Apresentando o Coral Canto na Escola
Lugar: Casa de Congo Mestre Antônio Rosa
Dia 28 de Agosto de 2012, às 19 horas.
Endereço: Rua Cassiano Castelo, 22, Serra Centro.
Email. museuhistorico@serra.es.gov.br
Telefones: 27 3251 6636 ou 3251 4850


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

NOVAS APRESENTAÇÕES DO CORAL CANTO NA ESCOLA


O Coral formado por alunos do projeto Canto na Escola segue uma apertada agenda de apresentações visando o amadurecimento do repertório e, obviamente, aprimorando o talento de seus integrantes. Na segunda-feira passada (dia 13 de agosto) o grupo deu mostra de sua musicalidade para os alunos da Escola Técnica – CEDTEC (educação profissional levada a sério), em Laranjeiras na Serra-ES. A regência mais uma vez coube ao professor Elias Nascimento, tendo a professora Kyssila Teles ao teclado.  


No site do CEDTEC vemos a seguinte frase: “A cultura da qualidade começa na escola”. Não foi por acaso, portanto, que os próprios alunos tiveram a iniciativa de convidar o coral do Canto na Escola para uma apresentação durante a cerimônia de conclusão do curso de Mecânica. Cultura e qualidade são duas palavras muito interessantes de se combinar, sem a junção delas, a arte não se eleva do patamar da casualidade ou do amadorismo especulativo que confundem e iludem analfabetos e letrados.


A formação é muito importante e a falta dela tem espalhado mazelas em nossas cidades. Com tristeza vemos subestimada a formação para o artista e até para os atletas, porque muita gente pensa que desenhar, interpretar ou fazer música é simplesmente um dom. Nesse momento é muito comemorada por aqui a participação dos dois filhos de Touro Moreno nas olimpíadas de Londres. Imagine se eles tivessem apoio e condições para se preparar. É nessa tecla que se tem que bater. Não basta sermos bons em ideal, tem que haver apoio profissional e suporte financeiro para sermos ainda melhores!


E no dia 18 de agosto (sábado) o coral Canto na Escola vai se apresentar na EMEF Profª Eulália Falquetto Gusmann em Vila Nova de Colares, Serra-ES. Vai ser durante o projeto “Escola da Paz” que começa às oito da manhã. A jornalista da prefeitura da Serra, Priscila Cavalcante, no site da instituição, destaca que:

“O “Escola da Paz” consiste em centralizar diversas atividades das unidades de ensino de determinada região da cidade em um único polo. A escola-polo EMEF Profª Eulália Falquetto, receberá as unidades: EMEF Feu Rosa, EMEF Flor de Cactos, Prof. Naly da Encarnação Miranda, Professora Valéria Maria Miranda, CMEI Moranguinho, CMEI Profª Dilza Maria de Lima, CMEI Vila Nova de Colares, CMEI Vovó Ritinha e CMEI Zilda Arns.”

“O objetivo do projeto é que todas as unidades de ensino concentrem suas atividades e apresentações culturais naquela unidade-polo, tornando-se assim, um fator de integração para as comunidades locais, promovendo encontros de paz e união”, disse a diretora do Departamento de Ensino, Rosani Moraes.”

http://www.serra.es.gov.br/sedu-secretaria-de-educacao/2012/08/escola-da-paz-neste-sabado-18

Todos estão, portanto, convidados a participar e conhecer melhor o trabalho do Coral Canto na Escola e prestigiar o talento dessa meninada.

Curta também nossa página no Facebook, ajude a espalhar essa iniciativa que a cultura agradece.
http://www.facebook.com/pages/Instituto-Todos-os-Cantos/123378467722397

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

POR UMA SIMBIOSE MUSICAL

O projeto Canto em Todos os Cantos, como o nome já diz, nasceu da vontade de divulgar o canto coral no maior número de lugares e, aprovado pela Lei Chico Prego, segue sua temporada 2012 de apresentações, como a do coral formado por alunos do projeto Canto na Escola que ocorreu domingo passado – 05 de agosto – na Igreja Católica do bairro Feu Rosa, na Serra.


É geral a reclamação de artistas locais já consagrados com relação à falta de espaços para apresentações na Grande Vitória, imagine então a dificuldade para os que estão dando os primeiros passos na música. É preciso provocar e “causar”, abrir o caminho para mostrar a voz e dar a vez para aqueles que estão chegando. Essa troca com o público é simbiótica, faz parte do amadurecimento de todo artista: é fundamental.

O termo “simbiose” é perfeitamente aplicável à situação. No dicionário Aurélio está assim: “1. Biol. Associação de duas plantas ou de uma planta e um animal, na qual ambos os organismos recebem benefícios, ainda que em proporções diversas.”

O impacto de uma demonstração musical “ao vivo”, olho do artista no olho da platéia e vice-versa, é infinitamente mais revelador e contundente do que a audição de um disco ou assistir a um show em DVD. A troca de informação extrapola o compreensível, porque na música, intencionalmente ou não, muita coisa não se traduz com palavras, não se racionaliza; são informações para o coração e suas íntimas e ínfimas ligações com coisas que sentimos e percebemos como verdadeiras, mas nem sempre conseguimos explicar. É aquele arrepio, é um calafrio, uma sutil – ou às vezes veemente - pancada no plexo solar.

 
A oportunidade de uma apresentação cria essa associação entre organismos diferentes: artista e platéia. Mudanças ocorrem depois que esta exposição mútua acontece: reafirma convicções, descortina possibilidades não vislumbradas, influencia pessoas, revela necessidade de aprimoramentos etc. A reação do público pode ser diversa de positiva? Claro que pode. Embora nem sempre – hoje em dia quase nunca – a arte mais elaborada e especial seja a mais valorizada pelo cidadão comum. Muitos cantores podem também não se sentir confortáveis com a exposição, mas o amadurecimento que dela decorre é um bem necessário.

O projeto Canto na Escola existe desde 2011 e atua em três escolas municipais da Serra-ES. Um de seus produtos é o grupo coral formado por jovens dos bairros Novo Horizonte, Barro Branco e Feu Rosa. Regiões que, infelizmente, com frequência são vistas nas páginas policiais. Um líder comunitário de Feu Rosa se queixava da “mídia” dizendo que toda a comunidade acaba carregando o peso dessa “violência” e que as coisas boas que lá acontecem nunca são divulgadas. Falava, inclusive, da apresentação do Canto na Escola formado por um pequeno grupo de jovens do bairro.

Professor Elias Nascimento regendo do Coral Canto na Escola para uma Igreja Lotada em Feu Rosa, Serra-ES.
Então houve essa troca, os meninos e meninas cantaram para uma igreja lotada, mostraram força, coragem e determinação. Sem dúvida se descobriram com a experiência dessa exposição pública, é uma marca que poucos esquecem. O público presente, mais do que a música em si, há que ter percebido naquela singela demonstração uma reafirmação de identidade e de pertencimento. São os jovens de seu próprio meio fazendo música e que, amanhã ou depois, estarão ensinando os que ainda vão chegar. É o resultado de um trabalho que acena com a possibilidade tão desejada de mudança para um conceito social positivo. Uma afirmação de esperança e de fé.

sábado, 4 de agosto de 2012

EDUARDO LUCAS: BOTA A BANDA PRA TOCAR


No mundo capitalista, histórias de gente que precisou abandonar o sonho de ser músico para investir numa profissão financeiramente mais viável como a de advogado, por exemplo, são a tônica. No bate-papo a seguir, com o professor Eduardo Lucas - 23 anos, responsável pelo projeto banda de música dentro do Canto na Escola – vamos descobrir que, com dedicação e talento, a exceção à regra pode muito bem encontrar um sonoro acorde alternativo e com sopro e com vontade botar a banda pra tocar...

ITC: Você nasceu em Vitória mesmo?

Eduardo: Eu nasci em um bairro periférico daqui chamado São Pedro, São Pedro V ou Nova Palestina na verdade, porque São Pedro mesmo é só a região. Inclusive, São Pedro ficou conhecido no mundo todo como o pior lugar do mundo que tinha para se sobreviver. Não sei se você sabe, mas lá era um lixão.

ITC: Teve um filme que o jornalista Amylton de Almeida fez lá, chamado Lugar de Toda Pobreza (1983).

Eduardo: Sim, um documentário. Foi divulgado no mundo todo e as pessoas não acreditavam que existia tanta pobreza no Brasil, sabiam da África e tudo, mas não imaginavam isso acontecendo aqui. Aí teve a visita do Papa (João Paulo II, em 1991) que teve relação com esse vídeo, na época ele esteve lá em São Pedro, aí eles asfaltaram o bairro, porque era tudo lama e como o Papa ia lá ele tinha o costume de beijar o chão e já beijar a lama não tem como... Ele doou uma verba, acho que foi um anel, para construir a escola (municipal) que eu estudei que se chama (EMEF) Neusa Nunes Gonçalves, tem até um crucifixo numa pedra lá lembrando...

A Biblioteca da Escola tem um blog com várias informações complementares como fotos da cruz do papa (abaixo):

http://emefnng-bibliotecafontedosaber.blogspot.com.br

ITC: Nessa época você já gostava de música?

Eduardo: Não, nunca tive contato com música, eu sou o único músico da família, mas eu tinha um vizinho que tocava trombone e eu achava legal e na igreja (Assembléia de Deus) eu tinha um colega que tocava sax. Foi esse amigo que me pediu para estudar algum instrumento para ajudar na igreja, mas na época era muito precário, não tinha professor e nem tinha grana pra pagar. Aí me indicaram um projeto que estava no início que era o Banda Junior da Polícia Militar, até patrocinado pela ArcelorMittal Tubarão, antiga CST. Meu pai é militar e eu fui lá e me inscrevi, consegui uma vaga e comecei a estudar música com quinze anos. Foi muito diferente porque não era o que eu queria pra mim: meu pai é militar, meu avô era, minha família tem muito militar e o caminho a seguir era esse.

ITC: Mas dentro da corporação tem um monte de músicos, seu pai poderia, se ele quisesse, tocar alguma coisa.

Eduardo: Mas meu pai aprovou a minha ida para estudar música justamente porque foi dentro da corporação e tem a banda de música da polícia. Por que se fosse algo que não existisse lá dentro, talvez ele não visse com bons olhos, entendeu? Aí ele me ajudou, comprou o meu primeiro trompete e eu comecei a estudar no projeto Banda Junior. Na época tinha essa questão de módulos, então eu estudei um ano inteiro de teoria pra só depois pegar no instrumento. Essa foi uma coisa que desanimou, na minha turma tinha uns trinta alunos e muita gente desistiu. Da minha época, que eu lembro, acho que eu fui o único que resistiu até o final. Eu queria tocar sax e como sempre fui muito gordinho, falaram pra eu tocar tuba, daí falei que não porque não ia ter dinheiro pra depois comprar o instrumento. E sax não tinha, porque todo mundo queria, foi quando me apresentaram o trompete lá na banda.

A Banda Junior em ação. Foto: Assessoria de Comunicação PMES
 ITC: E quando foi que você falou “gostei desse negócio, vou tocar mesmo”?

Eduardo: O meu sonho era seguir a área de direito, sempre li muito sobre isso, meu pai tinha uns livros de direito em casa por causa do militarismo e tinha feito ciências políticas também. Com quinze anos eu já tinha lido a constituição inteira, eu não entendia bulufas de nada, mas gostava daquilo. Só que quando chegou o momento eu optei pela música, porque comecei a sentir paixão, aquilo foi me atraindo cada vez mais e resolvi seguir meio que com o pé atrás, porque não tenho nenhum referencial de músico na minha família, uma pessoa que deu certo. É como você se jogar no mar sem uma bóia, não sei o que vai dar, mas vamos nos aventurar. Então prestei vestibular pra Fames pro curso de formação musical e até deixei um pouco o ensino secular de lado porque fiquei tão apaixonado pelo trompete que não queria estudar outra coisa. Na época eu pensava que a escola não ia me ajudar em nada, então pra quê estudar português e matemática? E isso foi um grande engano, hoje ainda sofro por conta de não ter levado os estudos a sério. Pra eu poder me formar e fazer o curso superior em música me deu muito trabalho.

ITC: Quando você era pequeno que tipo de música você ouvia na sua comunidade?

Eduardo: Meu pai sempre foi muito festeiro e tinha um bailão lá (em São Pedro) chamado “Sonho Doce” e rolava muito forró, na época tinha aquele negócio de discoteca e rolava também um funk, tinha baile funk e pagode. Então eu tinha esse contato bem supérfluo, não era um contato profundo com a música.

Eduardo (no meio) com alunos em Feu Rosa, Serra-ES
ITC: Quando começou a estudar você viu um outro universo de música que você nem imaginava, não é? Você nunca tinha ouvido música erudita em casa?

Eduardo: Nunca. E foi um baque bem grande, porque música erudita era só aquela que eu via em trailer de filme. Fora isso não tive contato com nomes tipo “Beethoven”, para mim era muito difícil até mesmo pronunciar. Na banda de música é que tive contato com Guerra Peixe, os compositores brasileiros, Villa-Lobos, Carlos Gomes, comecei a aprender esses nomes e ver um outro lado da música dita “erudita”.  No princípio eu queria tocar, independente do que fosse, depois de certo período é que eu comecei a sentir prazer de estudar essa música. Às vezes a gente não dá muito valor a música erudita porque não sabe o quanto é difícil fazer essa música.

ITC: E como a sua família viu essa mudança?

Eduardo: Minha mãe gostou porque eu comecei a tocar na igreja e outra coisa é o meu bairro, né? Por ser um bairro periférico você tem diversas mazelas como drogas, envolvimento com coisas erradas e com a minha atividade da música, que é uma coisa boa, evitou de eu ter contato com essas coisas, me ajudou bastante. Tive amigos que traficavam drogas, perdi muitos amigos por conta do crime e da violência. Talvez porque não tiveram a mesma oportunidade que eu tive.  

Eduardo com a banda de percussão em Novo Horizonte, Serra-ES
ITC: Quando você começou a dar aulas no Canto na Escola foi a primeira vez que você lecionou?

Eduardo: Eu já tinha montado uma oficina de música na igreja, trabalhei na Escola Aberta, dei aula de teoria musical e flauta doce, dava aulas particulares de trompete em casa. Depois de um certo tempo na Fames eu participei de um processo seletivo do Projeto Bandas nas Escolas Estaduais e fui aprovado para dar aulas na Serra Sede, para trabalhar com banda dando aulas de trompete, trombone e bombardino. Depois, no ano seguinte, nesse mesmo projeto trabalhei em Vitória no Colégio Estadual, sob orientação de um professor. Em 2011 eu ingressei no Canto na Escola que foi quando eu comecei a atuar profissionalmente, com carteira assinada e tudo mais.

ITC: Você usa música popular para despertar o interesse dos alunos para a teoria?

Eduardo: Eu sofri para aprender a teoria e isso é importante no ensino, porque você sabe que aquilo é doloroso, que é difícil, então você entende a dificuldade do aluno. Desde que comecei a dar aula eu já tinha intenção de usar a teoria musical concomitantemente com o ensino do instrumento, porque é algo mais atrativo para o aluno, faz com que ele se envolva mais com a música. O menino aprende a ler a partitura, mas aprende também uma musiquinha no instrumento e quando chegar em casa vai falar: “pô mãe, já aprendi essa musiquinha”.  




ITC: Como é que você vê o desenvolvimento de seus alunos? O trabalho de Banda dá resultado rápido, não é Eduardo? Ou não?

Eduardo: Depende muito do instrumento, com os instrumentos de sopro é mais demorado, já os de percussão é um pouco mais fácil, porque criança tem aquela fase de querer sair batendo em tudo, até panela, é um pouco mais fácil lidar com essa questão motora. Já o ensino do instrumento é uma coisa mais cognitiva, a criança tem que pensar: “eu tenho que assoprar, eu tenho que fazer o lábio vibrar, tenho que fazer a paleta vibrar”. Então demora um pouco mais.

ITC: E você vê potencial de talentos na sua turma?  
    
Eduardo: Tem diversas crianças que eu vejo que tem talento e aptidão inatas, acho até que dizer “inata” é muita pretensão também, mas que têm uma certa aptidão pro negócio, mas eu tento não ver aquilo como um investimento individual, “vou investir nessa criança porque ela vai ser um grande músico”. Nosso intuito é oferecer uma educação musical de qualidade para as crianças, agora se no futuro elas vão seguir na música não é o foco, nosso objetivo é aliar o ensino com noções de cidadania, promover a inter-relação entre elas, dos princípios, essas coisas todas.


ITC: Nem todo mundo que tem que estudar matemática vai ser um grande matemático, não é? Talvez seja a mesma coisa com a música, são caminhos ensinados, trilhar é outra história. É como você que não conhecia o repertório de música clássica, certamente seus alunos também nunca tiveram...

Eduardo: Pra eles é uma coisa muito nova, eu uso uma estratégia que tem dado certo, de trazer a música erudita associada à música popular. Não dá pra chegar em toda aula e colocar a nona de Beethoven pras crianças escutarem do nada. A idéia é tentar trazer de uma maneira mais divertida, eu estava ensinado células rítmicas através de música popular - colcheias, semi-colcheias – utilizando a Lady Gaga, Michel Teló, essas musicas populares. Um dia resolvi levar a quinta sinfonia de Beethoven, pensando que os meninos fossem me bater porque nunca tinham ouvido. Aí fiz uma brincadeira com eles de fazer movimentos associados às células rítmicas e melódicas da música, o sentimento que despertasse nelas teria que gerar um movimento. Esse exercício me surpreendeu muito, porque daí pra frente todas as aulas elas queriam ouvir a mesma música. Imagina, uma criança que só escuta “tchá-tchá-tchú” querendo ouvir a quinta de Beethoven? É um salto enorme e isso tem trazido um resultado muito bom.